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Um olhar afrocentrado sobre a história do Brasil

O jornalista Tiago Rogero contou detalhes sobre a produção do Projeto Querino e conversou com alunos da UFF sobre carreira e novas maneiras de se fazer jornalismo


Por Felipe Teófilo



A mesa de abertura da XVI edição do Controversas teve a presença do jornalista Tiago Rogero, que tratou principalmente de seus trabalhos mais recentes, todos em podcast: Projeto Querino, Vidas Negras e Negra Voz. Em conversa com os alunos de jornalismo da UFF Catiane Pereira e Pedro Menezes, mediadores, Tiago falou também sobre sua carreira, o mercado de trabalho de jornalismo, a atividade de pessoas negras na profissão e o mercado de podcasts pelo mundo. O evento aconteceu nos dias 7 e 8 de dezembro, na sala Interartes do Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS) da UFF.


“Um olhar afrocentrado sobre a história do Brasil, valorizando a contribuição afro-brasileira para a cultura do país e mostrando a participação da elite branca na perpetuação da desigualdade brasileira”. Assim o jornalista definiu o Projeto Querino, produzido pela Rádio Novelo, um de seus maiores trabalhos, considerando audiência. A série tem 8 episódios principais e um extra, 507 minutos de um conteúdo produzido em três anos de pesquisa.


Tiago reforçou o quão trabalhoso foi o processo de busca por informações e o quanto ele aprendeu nesse período. Quando o debate começou, os mediadores perguntaram para a plateia se alguém sabia quem tinha sido Querino. Poucas mãos foram levantadas. Foi quando Tiago disse que, até iniciar sua pesquisa, também não conhecia essa personalidade. “Manoel Querino foi um homem negro, nascido em 1851 que, apesar da escravidão, nasceu livre e teve a possibilidade de estudar, se tornando uma das pessoas mais brilhantes da história do nosso país”, explicou.


Além disso, Manoel Querino escreveu em 1918 uma obra que foi fundamental como inspiração e fonte de informações do Projeto Querino. Nela, Manoel conta como as pessoas negras não foram meramente particípios da formação do Brasil, como se aprende na escola, e sim protagonistas.


Além do Projeto Querino, Tiago Rogero teve várias outras experiências na carreira que também foram abordadas na mesa de debates. O jornalista mineiro e torcedor do Galo, como fez questão de afirmar, já trabalhou na BandNews FM de Minas Gerais, na sucursal do Rio de Janeiro do jornal O Estado de S. Paulo e no jornal O Globo. Também publicou na revista Piauí e criou conteúdos para a produtora Negra Voz Produções.


Na plateia cheia, diversos futuros jornalistas com sonho de trabalhar em redações de jornais grandes mantinham o olhar fixado em Tiago, que também compartilhou um pouco da sua experiência de forma sincera. Primeiramente, o jornalista ressaltou a dificuldade que é ocupar esses espaços, principalmente para pessoas negras. Para ele, “o mercado é horrível para estudantes de jornalismo negros. Os postos de decisão são ocupados por pessoas brancas. Os negros em redações são resistência, não só para entrar, mas para se manter lá”. Apesar do baque inicial, Tiago se mostrou esperançoso. “Isso não é para desmotivar, porque é importante entrarmos para ocuparmos espaços, sermos resistência. O lado bom atualmente são as possibilidades, a produção de conteúdo de forma ampla. O mercado é cruel, mas podemos sonhar”, completou o jornalista.


No fim da conversa, os mediadores abriram o espaço para o público fazer perguntas, e diversas mãos foram levantadas, pessoas com vários questionamentos curiosos sobre a carreira de Tiago e o Projeto Querino. Uma delas se destacou: O Projeto Querino é um podcast que bate de frente com a elite branca, uma elite que está acostumada com o conforto. Na sociedade atual em que vivemos, onde a extrema direita cresce a cada dia e o ataque a jornalistas que buscam ser resistência é cada vez maior, como o Tiago lidou com os ataques sobre o Projeto Querino?


Tiago contou que não recebeu nenhum ataque mais incisivo, embora tenha se preparado para isso. Achou que ataques poderiam acontecer quando observou como a extrema direita dos Estados Unidos reagiu ao podcast 1619, sua maior inspiração para o Querino. “O 1619 sofreu uma onda de ataques, inclusive do Donald Trump, quando era o presidente. Estive preparado para uma reação semelhante aqui no Brasil e tomei medidas para me proteger. A minha empresa não é registrada no endereço da minha casa, retirei todas as fotos pessoais das redes sociais, me preparando para a onda de ódio que poderia vir”, disse o jornalista.


Ao fim do debate, Tiago deu dicas aos estudantes que planejam se aventurar em podcasts, um dos mercados jornalísticos que mais cresce. Para ele, a escolha do tema deve ser algo que desperta a paixão do jornalista. Por fim, em seu agradecimento, Tiago Rogero fez questão de dar uma palavra de motivação aos estudantes de jornalismo presentes e reforçou a importância da profissão. “Contra todos os desmandos e ataques à democracia que ocorreram nos últimos anos, poucas instituições se mantiveram tão fortes como o jornalismo”, finalizou.

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