Manuela Caputo e Maria Clara Pestre (centro da foto), entrevistadas pelas alunas Taís Aparecida (esq.) e Kezya Alexandra (dir.)
Fechando o primeiro dia da 17ª edição do Controversas, a mesa “Tendências do jornalismo digital”, colocou em discussão os temas: fact checked, inteligência artificial e LAI (Lei Geral de acesso à informação). Com a presença de Manuella Caputo (Abraji) e Maria Clara Pestre (checagem/AFP) e participação gravada de Thássius Veloso (colunista/Tecnoblog) e Daniela Pereira (FSB Comunicação), os debates sobre a influência das redes sociais no universo da informação deram o pontapé inicial da discussão, sendo colocadas como uma nova forma de entender os pensamentos dos usuários dentro dos seus espaços. O debate trouxe um panorama prático de como lidar com essas novas tendências e ferramentas no dia a dia da profissão de jornalista.
Inteligência artificial e a importância do fact checking
O tema da inteligência artificial direcionou a conversa para o futuro da profissão diante desse avanço tecnológico. Nesse ponto foi levantada a importância da checagem de fatos e de como ela deve ser encarada como uma oportunidade de trabalho jornalístico. Ao falar sobre a cobertura jornalística e a inteligência artificial, Thássius Veloso afirmou que essas ferramentas ainda estão em fase inicial e ainda há várias mudanças para acontecer. Ele pontuou que toda ferramenta tem seus prós e contras, e chamou a atenção para os perigos das informações falsas. Deixou um alerta para o futuro: “O que vai ser do jornalismo quando o buscador conseguir responder direto uma pergunta sem direcionar para uma página específica de um aplicativo de notícias?
Thássius mostrou que os novos jornalistas devem estar atentos e encarar como um problema para o futuro das redações essa forma direta de noticiar que a IA pode absorver. Manuella Caputo destacou que “a IA não trabalha com lógica e sim com associação de palavras”, concordando com o que foi dito por Thássius sobre a desinformação que pode ser produzida pela IA, e levou a discussão para o uso indevido de trabalho alheio que a inteligência pode fazer.
Maria Clara Pestre, que lida diretamente com checagem em sua rotina profissional, chamou a atenção para a análise das imagens nas redes: “Será que o que você está vendo é verdade ou não?”. Ela explicou que a imagem através da IA é feita a partir de várias já criadas e vem sendo um grande desafio no processo de checagem. “A imagem tem muito esse poder de ‘se eu vejo eu acredito’, então a gente acaba vendo muitas imagens falsas, e é aí que entra o trabalho do jornalista, que é uma pessoa que tem a capacidade de olhar para imagem e perceber os elementos que indicam que ela foi gerada artificialmente”, disse a jornalista. Apesar de existirem ferramentas capacitadas para fazer esse trabalho, Maria Clara deixou claro a importância da presença do jornalista, porque com a velocidade dos avanços tecnológicos as ferramentas ficam obsoletas rapidamente.
Perceber que essas ferramentas não trazem só perigos, mas também podem trazer benefícios, se usadas de forma responsável. Foi o que trouxe Daniela Pereira, que contou que usa a IA para automatizar sua rotina de trabalho. Ela também chamou atenção para a necessidade de olhar para o cenário de rápidas mudanças com disposição para aprender e se adaptar. Lembrou ainda que nada supera a importância humana. Afirmou ainda que “é importante se apropriar dessas ferramentas para dar mais tempero à nossa vida profissional, para o nosso dia a dia”.
Aprender e se adaptar às mudanças foram os conselhos gerais deixados para os futuros jornalistas.Desbravar as redes, ser um profissional que entende de redes, entender métodos para distribuição de conteúdo e ter domínio das ferramentas são caminhos para desbravar as novas tendências do jornalismo digital. “O desafio é encontrar o equilíbrio entre o jornalismo de boa qualidade e o jornalismo que encontra as pessoas efetivamente, o formato limita bastante, mas é importante encontrar o equilíbrio”, sintetizou Manuella Caputo.
Jornalismo de dados como possibilidade
Outro tema que movimentou o debate foi o jornalismo de dados. Com a precarização do trabalho multiplicando o número de iniciativas independentes no jornalismo, aprender a levantar dados por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) ganha ainda mais importância. Segundo Manuella Caputo, a lei é uma ferramenta vital para solicitar informações, mesmo diante de obstáculos como falta de estrutura e má vontade de alguns órgãos.
Manuella apresentou também a plataforma ‘Achados e pedidos’ (https://www.achadosepedidos.org.br/) que funciona como repositório de pedidos de informações solicitados através da LAI. A jornalista também chamou a atenção para um uso positivo da IA para a curadoria sobre conteúdos relevantes, considerando o acesso a grandes bases de dados.
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