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Juliana Dal Piva: “Não tem matéria que valha sua vida”



Karen Vencovsky


Segurança e coragem. Essas palavras foram lembradas em muitos momentos dos debates da mesa que encerrou o primeiro dia do Controversas, sobre “Reportagem na pandemia”. Os substantivos remetem ao que o jornalista deve ter em mente, no seu exercício profissional, especialmente quando sua própria vida está em jogo. Durante uma hora e meia de conversa, os jornalistas Marcus Vinícius Oliveira, da CNN, Daniel Gullino, do Globo, e Juliana Dal Piva, do UOL, compartilharam aventuras, deram dicas valiosas e debateram os desafios de se manterem fora de perigo, ao apurar e produzir matérias, durante uma pandemia.


Numa de suas declarações mais marcantes no evento, depois de contar várias histórias de apurações emocionantes, algumas perigosas, Juliana Dal Piva declarou: “Não tem matéria que vale a sua vida”. Ela disse que com vinte e poucos anos, não tinha tanta clareza sobre isso, mas que hoje procurava se preservar ao máximo.


O moderador Marco Antônio Victoy, aluno de Jornalismo da UFF, abriu a conversa perguntando como foi a exposição dos convidados ao vírus do Covid-19 durante a construção de reportagens desde março de 2020. Daniel, jornalista de política do jornal O Globo em Brasília, respondeu que foi desafiador conciliar a função com a segurança, pois em sua atuação diária no Palácio da Alvorada, ele fica próximo não só do presidente Jair Bolsonaro, como também dos apoiadores dele, e a maioria não costuma usar máscaras de proteção.


Já para Marcus, jornalista do CNN Série Originais, o trabalho de produção dos documentários do programa foi marcado por confusão e informações contraditórias, o que não só causou medo e preocupação pela própria segurança, como também interrompeu a produção de novos documentários. Na experiência dele, foi preciso ficar atento às novas informações e procurar estar sempre atualizado quanto às medidas de segurança indicadas.


E agora, depois de mais de um ano e meio de pandemia e em meados da vacinação? As coisas melhoraram? Para Juliana, colunista do UOL e apresentadora do podcast A vida de Jair, pelo menos em relação ao trabalho de jornalista, quase nada mudou. A preocupação em se manter protegida enquanto corre atrás de fontes e o estresse de ter isso em mente o tempo todo continuam.


Inclusive, para entender como isso afetou seu trabalho na prática, ela abordou um dos grandes desafios de quem tem trabalhado com jornalismo investigativo: encontrar-se com fontes sigilosas. Quando os assuntos são sensíveis, como na cobertura política, que Juliana e Daniel compartilham, as fontes quase sempre fazem questão de se encontrarem pessoalmente para evitar o vazamento de informações. Num momento de pandemia, isso se torna um risco.


Tentar encontrar fontes virtualmente foi uma experiência desafiadora experimentada por Marcus durante a pandemia. “No documentário as pessoas prezam pela boa imagem. A maior dificuldade nossa foi a gravação presencial.” Por isso, ele compartilhou seu aprendizado para futuros jornalistas que se depararem com a barreira virtual. “A gente foi, devagarinho, entendendo como as coisas funcionariam, e a partir desse momento a gente começou a arrumar outras técnicas para fazer uma boa matéria”.


Essas dicas não servem só para a atual pandemia do Covid-19. Juliana Dal Piva relembrou a viagem que fez à Bolívia durante a pandemia do H1N1, comentando que ela se sentia uma “ET” usando máscara de proteção e passando álcool gel nas mãos dez anos atrás. Para ela, o cuidado com a segurança, a preocupação e a necessidade de estar informada quanto às medidas de segurança são chaves para o trabalho dos jornalistas em qualquer momento da história.


Os convidados compartilharam tantas histórias impressionantes que terminaram ultrapassando um pouco o tempo planejado. O público não pode fazer perguntas, mas vibrou, no chat do evento: “Que evento incríveel! Essa última mesa foi super inspiradora!” comentou Fátima Moraes. “Ótima mesa! A hora passa voando!”, disse Julia Barbosa De Mattos Ferreira. Até o lendário professor aposentado do curso de jornalismo João Batista Abreu teve o que falar: “Bons depoimentos de quem está na linha de frente da cobertura”.


A mesa fluiu como uma conversa e os três convidados compartilharam histórias engraçadas e assustadoras, além de darem seus melhores conselhos para fazer reportagem em tempos de pandemia de forma responsável e produtiva.


Para assistir a mesa completa, é só acessar a gravação em https://www.youtube.com/watch?v=cxbXZFGTbZA&t=1233s






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