A voz por trás do podcast “Praia dos Ossos” falou sobre sua trajetória e sua forma de fazer jornalismo
Na abertura do Controversas, Branca Vianna foi entrevistada pelos alunos Esther Almeida e João Pedro Sabadini
De professora e intérprete simultânea, a podcaster referência na indústria jornalística Branca Vianna, fundadora e presidente da Rádio Novelo, abriu a 17૦ edição do Controversas. A idealizadora do podcast Praia dos Ossos, uma das séries mais conhecidas da produtora, traz com sua voz o compromisso com pautas sociais e uma abordagem jornalística que ultrapassa o convencional, na discussão sobre Jornalismo por Novos Olhares – o tema do encontro. Ela abriu os debates contando um pouco da sua história.
Branca já tinha uma íntima relação com narrativas sonoras antes mesmo de produzir as próprias profissionalmente. Quando questionada sobre como surgiu esse interesse, a carioca contou que, desde os anos 80, com seu Walkman, viajava o Brasil e comprava audiolivros de história. Com a chegada da internet, passou a consumir podcasts. “Eu sempre gostei de ouvir, eu acho uma coisa interessante, porque o que o áudio faz pra nossa imaginação é muito bom. Você se distrai e você consegue fazer coisas que são chatas passarem a ser divertidas. Cozinhar, passar, fazer faxina e lavar a louça. Então quando surgiram os podcasts foi perfeito para mim.”
Foi com esse fascínio que, depois de cerca de 30 anos atuando como intérprete de conferências, ela começou sua nova carreira ao lado de Paula Scarpin, co-fundadora da Novelo e repórter da revista Piauí. Branca e Paula fizeram juntas o pitch (apresentação inicial) do Maria Vai com as Outras, um podcast de entrevistas da revista que discute a relação da mulher com o trabalho, vida afetiva e família.
Nessa época, ao ver Paula escrevendo uma matéria sobre um crime amoroso, veio à tona sua relação com esse tema que viria a consagrar a Rádio Novelo com o podcast Praia dos Ossos. Curiosamente, Branca contou que tem horror a histórias de crime real justamente por ter acompanhado, na adolescência, o assassinado da socialite Ângela Diniz.
Mesmo assim, foi essa a história que ela e Paula escolheram contar na primeira série original da Rádio Novelo. Referência no estilo de podcast narrativo, a série conta a história de Ângela, assassinada com quatro tiros na Praia dos Ossos, em Búzios, pelo namorado Doca Street, réu confesso. Muito mais que só a narração de um crime, os oitos episódios trouxeram um trabalho de cuidado e uma pesquisa jornalística que redefiniu as expectativas sobre o que é possível alcançar por meio do jornalismo em formato de podcast.
A repercussão positiva abriu caminho para a série Crime e Castigo, sobre violência no Brasil. A iniciativa surgiu porque a rádio passou a receber muitos questionamentos sobre a justiça brasileira. Mais uma vez, Branca estreava em um projeto com debates sociais relevantes, sua marca registrada. Temas como justiça, racismo e feminismo são abordados e o objetivo é sempre conscientizar o ouvinte. “A gente recebeu um comentário de um cara por e-mail dizendo que tinha gostado muito do Crime e Castigo, apesar do ‘excesso de feminismo’. Em um evento, uma mulher veio dizer que tinha horror ao feminismo até ouvir nosso programa. E essas são as pessoas que eu quero atingir”, contou.
Apesar da excelência no meio, Branca não é formada em jornalismo. Graduada em Letras, foi questionada se a formação em Comunicação Social teria contribuído positivamente com o desenvolvimento dos podcasts e afirmou que sim, já que toda a rádio é composta por jornalistas. “Na Novelo, só eu e Flora [Thomson De-Veaux], a diretora de pesquisa, temos outra formação”, disse.
“A facilidade que eu tive e que muitas pessoas que começam a fazer podcast não tem é a voz. E o fato de que o microfone não me assusta, entendeu? Eu passei quase 30 anos com microfone na mesa e com a minha voz em vários lugares. Ah, também sou boa de escolher gente”, complementou, sorrindo, em referência à equipe da rádio.
Com o trabalho conjunto, a Novelo produz produtos inovadores no Brasil, segundo Branca. “É uma coisa que já existe, não foi a gente que inventou, mas é uma coisa que ainda não tem muito. É jornalismo mesmo, com apuração, com checagem, com tempo, com profundidade, mas em vez de ser um texto, é um áudio com sonorização, entrevista, áudio de arquivo e com roteiro mesmo”, explicou.
Para encerrar, a podcaster falou sobre as expectativas do futuro do rádio e deixou dicas para os alunos. Hoje, ela não vê inovação no modelo radiofônico tradicional e acha que a nova geração de “cabeças mais frescas” precisa ser criativa e pensar no futuro do rádio em tempos de podcast. Treinar de tudo e saber de tudo foi seu principal conselho. “Aprendam a editar, aprendam a sonorizar, a fazer roteiro. Quanto mais coisas vocês souberem fazer, mais vocês serão empregados no que querem”, aconselhou.
Branca Vianna deixou sua influência no primeiro dia do Controversas, que abraça novos olhares e se propõe não apenas informar, mas a inspirar narrativas mais ricas, inclusivas e representativas no jornalismo do futuro.
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